Se tu nasceres agora
serás poema
Dissertarás sobre a imensidão do tudo
nada poderá possuír-te
Tu queres?
Então nasce
Vem sentir o perfume do meu corpo
meu hálito de vodka
minhas mãos movendo-se
como as ondas de um maremoto
Vem
chega até aqui!
Te percebo até sem ver-te
basta-me sentir o teu olfato
teu tato consolida o meu acrobático tempo
Que venhas ter agora
produzir tua poesia
vociferar teu grito
Venhas!
Estou aqui à espreita deste sussurro
que escorre como um dilacerante cortejo
indo contra os torpedos
qu'inda querem troar
Vem, chega-te mais!
Quero agudar meu desejo de não possuir-te mais
possí-me, estou aqui!
Venhas
chega-te aqui, poema!
Minha voz não se altera
nem voz tenho agora
Minhas mãos te acolhem
como a flor, o orvalho
como o Bolero, meu corpo
como...
Atormentes minhas mãos, venhas!
Movimentes meu ser, tenhas!
Sou toda ametista, contenhas-me
Que bom, estás aqui!
Caminhos vagueados
mas o sol virá, e tu, também
Sejas benvinda, dizes a mim
Então, venhas!
Jurema Ribeiro